Ex-presidente da EBC Ricardo Melo: ‘Eu me sinto pessoalmente ofendido’

Ricardo Melo e Laerte Rimoli. Foto: Lula Marques/AGPT | Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Ricardo Melo e Laerte Rimoli. Foto: Lula Marques/AGPT | Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Com uma saída conturbada no dia 9 de setembro deste ano, o ex-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) Ricardo Melo contou ao SRzd que ainda enfrenta problemas com a empresa. “Até o momento ainda não recebi o meu Fundo de Garantia. Sou assalariado e isso tudo é muito constrangedor”.

Nas viagens que fazia a trabalho para São Paulo e Rio de Janeiro, Melo relatou ao portal que abria mão das diárias. Além disso, segundo o ex-presidente, dispensou carro oficial. Tendo feito cortes nas despesas da empresa, Melo se sentiu ofendido com um post publicado no Facebook pelo atual presidente da EBC, Laerte Rímoli, indicado para a função pelo ministro Eliseu Padilha e o presidente Michel Temer.

Rímoli, que também é responsável pela “TV Brasil”, utilizou seu perfil para contar como foi a reunião dele com assessores e a jornalista Leda Nagle, que culminou com o afastamento da apresentadora do programa “Sem Censura”.

Post de Laerte Rimoli. Foto: Reprodução/Facebook
Post de Laerte Rimoli. Foto: Reprodução/Facebook

Ocorre que, no final da mensagem, no “P.S.” (expressão em latim “post scriptum” , e significa o que vem após o que foi escrito),  Rímoli faz menção ao que chamou de “herança maldita”.

Leia a reprodução na íntegra: “PS: todos, “todos”, os contratos da EBC, com jornalistas, prestadores de serviços, colaboradores, estão sendo revistos. Pegamos a empresa com previsão de R$ 94 milhões de rombo. Cortamos tanto que chegamos a um rombo de R$ 19 milhões. Isto sim uma herança maldita. Como é emblemático, e caro, determinei o fim do famoso “carro preto” do Presidente, que consumia R$ 190 mil/ano”.

Ricardo Melo, ao ler o “desabafo” do atual presidente, se sentiu “pessoalmente ofendido”. E deu suas razões: “não gosto de falar mal de jornalista, mas o que ali foi escrito não é verdade”.

Leia abaixo a entrevista do ex-presidente Ricardo Melo ao SRzd:

Laerte Rímoli afirma: “Pegamos a empresa com previsão de R$ 94 milhões de rombo”. O senhor reconhece esta cifra? A grandeza está correta?

É mentira. Qualquer empresa, quanto mais de comunicação, faz uma previsão de gastos com base nas necessidades de investimento, modernização tecnológica, novos projetos, programas etc. Depois disso, o resultado é confrontado com a previsão de receitas. E à medida que percebemos que não teríamos esse dinheiro, fizemos cortes radicais em todos os planos, incluindo renegociação de contratos – alguns com redução de até 50% -, cancelamento de programas (Observatório da Imprensa, por exemplo), revisão de fornecedores, congelamento do salário da diretoria etc etc. Tudo isso na MINHA gestão.
Cabe ressaltar que a EBC, com base na lei de sua criação, previa o aporte financeiro proveniente de uma parte do Fistel. Ocorre que as operadoras de telefonia entraram com recurso na Justiça e hoje existem mais de 2 bilhões reais (2 bilhões de reais!) retidos em depósitos por força destes expediente. Fora isso, há mais de 800 milhões apropriados pelo Tesouro indevidamente para cumprir metas de superávit primário. É dinheiro pago pelas operadoras que desistiram de recorrer e que o governo não repassa a quem de direito, a comunicação pública.

Laerte diz administrar uma “herança maldita”. O senhor tem algo a dizer sobre isso?

O interventor travestido de presidente pouco sabe da EBC. A EBC é a materialização de um dispositivo constitucional aprovado pela carta de 1988, que previu a complementaridade entre comunicação privada, estatal e pública (artigo 223). A EBC surgiu para transformar em realidade a comunicação pública, dando voz aos que não têm voz na mídia hegemônica, oligopolista na produção e praticamente monopolista na opinião. Herança maldita é o que vivemos agora, quando políticos de extensa folha corrida no que se refere ao saque desenfreado aos cofres públicos tomaram de assalto o governo e tentam reverter os pequenos avanços sociais conquistados na última década. E não apenas na área de comunicação. Maiores informações podem ser obtidas com a Odebrecht, por exemplo.

Laerte disse ter determinado fim do “famoso carro preto”, que consumia R$ 190 mil/ano. O que significa esta afirmação? O senhor ou membros da sua diretoria utilizavam-se de carros oficiais com gastos desta magnitude?

Mais uma mentira. O corte do tal carro preto foi determinado na MINHA gestão. Basta consultar as atas da reunião da Diretoria Executiva. Estão à disposição do público.

Não é a primeira vez que a atual direção afirma que sua gestão à frente da EBC e seus antecessores foi perdulária. Qual é a sua resposta?

Perdulário é usar cargos públicos para comprar apartamentos na Bahia, contratar amigos como assessores, financiar campanhas com caixa dois, ganhar dinheiro por fora em obras portuárias em Santos, como fez o atual “presidente” da República etc etc. Dispensável elencar todo o prontuário. Basta ler os jornais. Um exemplo mais prático: por decisão do Supremo Tribunal Federal, fui reconduzido à presidência da EBC depois de um ato institucional baixado pelo sr. Temer. Eis que é descoberto que, à sorrelfa, sem o conhecimento da presidência da empresa, mas em conluio com a procuradoria interna, o interventor atual, mesmo sem trabalhar e tendo sido afastado pela Justiça, ficou mais de três meses recebendo salário integral (integral!) às expensas [despesas] da EBC. Enquanto isso, eu, Ricardo Melo, afastado por uma Medida Provisória absolutamente despropositada, ao arrepio da lei e cujo objetivo explícito é transformar a EBC em porta voz governamental – eu, Ricardo Melo, até hoje, decorridos mais de três meses, não consegui nem sequer sacar o meu FGTS. Quem será o perdulário?

*Enviamos à EBC solicitação de posicionamento sobre esta entrevista. Estamos aguardando.

 

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