Sidney Rezende. Foto: Nicolas Renato Photography

Sidney Rezende

Jornalista, diretor do SRzd e um dos profissionais mais inovadores do país.

Ocupação nas escolas é caso de política e não de polícia

As ocupações de escolas e faculdades em todo o país transformaram-se num problema sério. Tudo porque o Governo Federal e alguns membros do Judiciário se convenceram de que estão diante de um problema de polícia, quando é de política.

Os estudantes das escolas ocupadas não protestam somente contra a medida provisória que prevê a reforma do ensino médio e contra os efeitos da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Teto para a educação. Os jovens estão de saco cheio de escolas precárias, casas de ensino sem sincronia com o mundo tecnológico que eles já encontram disponível em seus celulares, professores de cabeça antiga e incompetências de toda ordem.

O presidente Michel Temer permitiu que a educação fosse conduzida por ministro incompetente, sem grandeza para o tamanho da pasta, além de não ter qualquer sensibilidade social. Resultado: o governo é uma nulidade no quesito educação.

Já tem gente do primeiro escalão que reconhece que houve erro de cálculo ao não dialogar com os jovens. É um grande erro dar voz aos que pensam que o porrete é a solução. Não é. Isto somente aumentará o abismo entre os governantes e a sociedade.

Se está injetando fermento no ovo da serpente para 2018.

Vivemos uma página triste da história do Brasil contemporâneo.

O especialista em educação Thiago Vidal, da Prospectiva Consultoria, disse à Exame, que nunca uma reforma educacional poderia ter sido proposta por Medida Provisória: “Ela não foi propriamente uma medida inédita e desconhecida. No entanto, teria sido melhor para a imagem do governo se ele a tivesse proposto por projeto de lei, cujo trâmite é mais lento do que de uma MP, mas permite um debate mais profundo”.

O consultor Ricardo Ribeiro dá uma outra interpretação para as ocupações nas escolas: “Há energia e movimento que parte dos próprios alunos, há um movimento autônomo que está preocupado com a reforma do ensino médio e os cortes de gastos na educação, mas há também convergências de interesses e pautas entre esses movimentos estudantis e partidos de esquerda.”

Para os que não dão muita importância ao problema, chamamos a atenção que 1.200 escolas em todo o país estão ocupadas.

A revista americana “Forbes” – entre outros veículos de comunicação estrangeiros – divulgou em suas páginas o discurso da estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro, de 16 anos. E por qual razão o tema interessou aos leitores da publicação?

Porque os nossos jovens estão lutando por uma causa universal. Pensar que é algo paroquial seria o mesmo que achar bom negócio matar uma formiga com um tiro de bazuca simplesmente pela crença que se está liquidando o formigueiro.

“A nossa única bandeira é a educação e é apartidária”, cala nossa boca a corajosa Ana Júlia.

Outro dia, um magistrado autorizou a polícia a utilizar a força contra meninos e meninas – assemelhada àquela praticada em tortura. Entre as técnicas de interrogatório defendida por sua excelência estavam isolamento físico, privação de sono e corte de água e energia.

Na última semana, mais de 20 alunos que ocupavam um colégio em Miracema do Tocantins foram retirados do local pela Polícia Militar, após a atuação do promotor de Justiça Vilmar Ferreira de Oliveira. Os jovens foram algemados como bandidos.

Por tudo isso é que o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgou nota de apoio aos secundaristas e demonstrou preocupação com a forma como as ocupações estão sendo tratadas no país.

O que se precisa, urgentemente, é abrir diálogo dos gestores das políticas de educação com os estudantes em todas as questões que impactam o setor.

Será preciso alguém ir até o antigo quadro-negro é mandar os caras de Brasília repetir: “Educação é caso de política e não de polícia”. “Educação é caso de política e não de polícia”.”Educação é caso de política e não de polícia”.

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