José Armando Vannucci. Foto: Fausto Império

José Armando Vannucci

Jornalista multiplataforma com atuação no rádio, televisão, internet e veículos impressos. Especialista em TV brasileira e com acesso a todas as emissoras do país, em seu trabalho une informação de bastidores com a crítica imparcial sobre o que é exibido pelas TVs abertas e fechadas.

As lições da cobertura jornalística da tragédia com o Chapecoense

A tragédia com a Chapecoense mexeu com todos nós, até mesmo com aqueles que não se envolvem tanto com o futebol. O acidente aéreo matou jogadores, dirigentes do time, comissão técnica, jornalistas e a tripulação do avião e, principalmente, o sonho de uma conquista inédita e a realização profissional de gente tão jovem e tão cheia de futuro. Diante de tudo isso, impossível para a imprensa não fazer uma intensa cobertura, reunindo todos os esforços para melhor informar seu público.

As emissoras de televisão mostraram agilidade diante da tragédia e, logo após os primeiros plantões durante a madrugada, colocaram no ar uma maratona de informações, fazendo o possível para manter as notícias no vídeo enquanto deslocava as primeiras equipes para Medellín, na Colômbia. Na manhã da terça-feira, a “Rede Globo” levou vantagem porque uma equipe do SporTV ficou na cidade para preparar reportagens especiais sobre o caminho da vitória do Chapecoense. O que se viu no vídeo foi um belo trabalho de reportagem com apuração dos fatos e o relato somente do que estava realmente checado. Se evitou especulações.

A “Record” também se mobilizou rapidamente e, através de sua programação, informou, repercutiu e entrevistou pessoas que, de alguma maneira, estavam ligadas a essa tragédia. César Filho mostrou claramente o quanto está preparado para coberturas que exigem improviso e agilidade de pensamento. A “Band “derrubou o seu entretenimento, esticou o “Café com Jornal”, unindo ao “Jogo Aberto”, “Os Donos da Bola” e “Cidade Alerta”.

Sem a mesma estrutura, a “Rede TV” buscou tratar o assunto de outra forma e levou no “Melhor Pra Você” um sensitivo para repercutir a previsão de outro vidente sobre um acidente aéreo. Uma pauta com o objetivo claro de criar impacto e gerar audiência, mas que, na prática, em nada alterou os números habituais da emissora.

Enquanto isso, o “SBT” resolveu seguir com sua grade. A tragédia foi informada no “Primeiro Impacto”, “SBT Brasil” e “SBT Notícias”. No mais, desenhos, brigas de familiares e fofocas. Resultado, a emissora ficou em quarto lugar na audiência e durante o “Fofocando” viu sua média chegar a apenas um terço do que a Record marcava.

A cobertura da tragédia com o Chapecoense mostrou que a televisão brasileira está preparada para grandes eventos e que tem capacidade de se armar rapidamente para apurar e transmitir informações, até mesmo de locais distantes e com poucos recursos. Atualmente, a tecnologia e a possibilidade do uso da internet possibilitam esse trabalho com uma qualidade interessantes.

Mais do que os avanços tecnológicos, essa cobertura mostrou um novo comportamento na televisão brasileira. Houve sim o respeito a todas vítimas e uma forte identificação com o acidente, afinal, entre os mortos, estavam jornalistas, todos amigos dos que ancoravam as transmissões. Luis Ernesto Lacombe e Galvão Bueno não esconderam do telespectador o quanto estavam tocados com a morte de seus companheiros de profissão. À noite, um Jornal Nacional histórico com a quebra de protocolos e a formalidade deixada de lado.

É esse o principal avanço da televisão brasileira. O que se viu nos últimos dias foi um trabalho jornalístico equilibrado, mas humano, com emoção na dose certa e, principalmente, com pouca especulação. Quem tentou explorar o bizarro ou pisar no terreno pantanoso da apelação se deu muito mal e perdeu audiência.

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