Desequilíbrio no concurso? O fator ‘Fábrica do Samba’

A “Fábrica do Samba”, construção projetada para abrigar os barracões das escolas de samba do Grupo Especial paulistano, foi pauta de discussões, nos últimos anos, devido aos atrasos no cronograma de obras.

No início do mês de outubro houve, finalmente, a liberação de sete, dos quatorze galpões previstos, ocupados por Unidos de Vila Maria, Nenê de Vila Matilde, Acadêmicos do Tatuapé, Acadêmicos do Tucuruvi, Gaviões da Fiel, Tom Maior e Dragões da Real. A partir daí, outras questões foram levantadas, dentre elas, uma possível vantagem para estas entidades em relação as demais coirmãs, uma vez que podem gozar de uma estrutura mais adequada para a execução de seus projetos, além da proximidade com o sambódromo do Anhembi, facilitando o sempre complexo transporte das alegorias dos barracões para a Avenida.

Nesse contexto, no último dia 3, o jornal Diário de São Paulo publicou matéria de capa acrescentando um outro ingrediente ao debate, sugerindo um possível “racha” entre os dirigentes e um concurso desigual em 2017.

A reportagem do SRzd procurou os representantes das escolas de samba que ainda produzem seu desfiles em instalações próprias espalhadas por diferentes regiões da cidade, e aguardam decisão do poder público municipal sobre a plena conclusão da obra. Cronograma que ainda depende de um encontro entre o presidente da Liga-SP, Paulo Sérgio Ferreira, com o prefeito eleito de São Paulo, João Doria Junior, do PSDB. Doria garantiu em entrevista ao programa “No Mundo do Samba”, veiculado pela Rádio Triano AM 740 e retransmitido pelo SRzd, que o projeto será concluído, com recursos já previstos no orçamento da capital paulista.

Clique no player abaixo e ouça o que o prefeito João Doria disse sobre a ‘Fábrica do Samba’

Representantes das escolas que estão fora da ‘Fábrica do Samba’ não acusam desvantagem

Com a palavra, as escolas de samba. Perguntados se o fato de ainda não estarem nas instalações da “Fábrica do Samba” colocava sua agremiação em desvantagem no concurso de 2017 em relação as demais coirmãs, todos foram unânimes em afirmar que não. A presidente da Mocidade Alegre, Solange Cruz Bichara Rezende, além de não enxergar inferioridade na disputa, acrescentou:

“Não me sinto lesada. Acho que foi uma escolha justa, já que muitas tinham problemas em seus barracões. A minha escola tem aonde se instalar. A decisão da Liga foi acertada ao priorizar quem estava em maior dificuldade. E também não observei nenhum problema entre os dirigentes por conta dessa questão, estou surpresa”, afirmou Solange ao comentar a matéria do Diário de SP.

Pedro Alexandre, o Magoo, carnavalesco da Mancha Verde, também se disse surpreso com a repercussão:

“Esse assunto me surpreende. Nosso projeto está sendo feito e seria o mesmo, independente do local. Não vejo nenhuma desvantagem para nós”, contou reconhecendo que as instalações da “Fábrica do Samba” são realmente mais adequadas, mas que ao final, na sua avaliação, todas estarão prontas para a disputa na pista, em igualdade de condições.

Por meio de sua assessoria, o presidente perucheano, Ney de Moares, defendeu a decisão da Liga-SP e destacou que a estrutura que dispõe atende as necessidades de sua agremiação:

“A Liga Independente das Escolas de Samba está correta em priorizar a ida das agremiações que estavam com dificuldades em seus barracões para a “Fabrica do Samba”. Nós, da Peruche, temos uma estrutura que atende perfeitamente o projeto de Carnaval dos carnavalescos Murilo Lobo e Sergio Caputo Gall. Para melhorar ainda mais o barracão, recentemente, fizemos uma reforma que adequou a bancada dos aderecistas e uma área de confecção de fantasias”.

Não vejo favorecimento, e sim, facilidade. Sidnei Carriuolo, presidente da Águia de Ouro

Sidnei Carriuolo, que preside a Águia de Ouro, também mostrou-se surpreendido com o tema, mas admitiu algo que classificou como facilidade, ao comparar as condições de trabalho que, por hora, separam as escola do Grupo Especial:

“Um racha, é uma novidade. Temos conversado sempre na Liga, e nada disso foi ventilado”, afirmou ao comentar a publicação do periódico impresso. “Sobre o concurso, não vejo favorecimento, e sim facilidade, já que podem montar as alegorias com mais conforto e estão mais próximos do Anhembi”, e ponderou:

“Por outro lado, as sete que lá estão, tiveram um cronograma mais apertado, já que ficaram esperando a liberação do espaço. Além disso, há um custo mais alto que o previsto para eles, porque existem despesas com o condomínio e manutenção do local, montante que seria divido por quatorze, e por enquanto, é apenas de responsabilidade deles”.

Liga-SP já havia se pronunciado sobre os critérios de ocupação da ‘Fábrica do Samba’

A matéria veiculada pelo jornal Diário de São Paulo mereceu, novamente, pronunciamento oficial da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo sobre o tema e, em nota publicada no site da entidade, reiterou o que já havia divulgado sobre os critérios utilizados para escolha das agremiações que ocupariam os sete galpões que foram liberados:

“…a escolha das agremiações foi feita em plenária e acordada por todos os presidentes tendo como critério: escolas que passavam dificuldades em seus barracões e que tinham ordem judicial para deixarem seus locais, como debaixo de viadutos. Portanto, não existe discórdia entre as escolas de samba, como a matéria insinua em sua chamada: “Fábrica do Samba já causa discórdia entre escolas”. 

O texto ainda acrescenta: “…seu operacional (Liga-SP) acompanha todo o deslocamento de alegorias, dos barracões até o sambódromo do Anhembi, independente de seus locais de partida, garantido que as mesmas cheguem em segurança”.

As escolas de samba Vai-Vai, Sociedade Rosas de Ouro e Império de Casa Verde, que completam o grupo que ainda aguarda o momento de se instalar na “Fábrica do Samba”, todas procuradas reiteradas vezes pela reportagem do SRzd Carnaval SP, não se pronunciaram até o fechamento desta nota.

Saiba um pouco mais sobre o projeto da ‘Fábrica do Samba’

O Departamento de Edificações da SIURB estabeleceu o ano de 2015 como prazo final para conclusão total da obra, uma das demandas mais antigas das agremiações que integram a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo.

Os primeiros passos envolvendo o projeto foram dados em 2005, através da Assessoria de Projetos Estratégicos da São Paulo Turismo, desde então, mudança de endereço, paralisações, burocracia com aprovações e liberações de documentos por diferentes órgãos, somados a alguns atrasos na construção, envolvem o tão sonhado espaço reservado para as criações dos artistas da folia.

O complexo em si teve suas obras iniciadas em 2012 e é considerado, assim que for concluído, um divisor de águas para o Carnaval paulistano, uma vez que todos os processos de concepção e execução do espetáculo deverão ser modificados.

Confira detalhes previstos para as instalações da ‘Fábrica do Samba’

Com mais de 77 mil m² de área construída, o espaço, que fica na Avenida Doutor Abraão Ribeiro, esquina com a marginal Tietê, distante apenas mil e cem metros do sambódromo, abrigará, além dos barracões das agremiações, o “Barracão Escola”, sede administrativa e estacionamento com 140 vagas.

Em cada um dos barracões, todos idênticos e com 4.200 m², trabalharão, em horário comercial, em média, 120 homens e mulheres, manuseando produtos químicos, tinta, isopor, tecido, plástico, vidro, ferro e madeira.

O projeto, que tem orçamento previsto de R$ 126 milhões, investidos em sua totalidade pela Prefeitura de São Paulo, busca garantir para as escolas de samba melhores condições de trabalho, contexto que irá refletir diretamente na qualidade dos desfiles carnavalescos. Nas áreas comuns, além da administração e salas de aula, haverá também portaria, subestações de energia e uma central de reciclagem e reaproveitamento de materiais.

Os barracões serão ocupados pelas escolas do Grupo Especial e, a cada ano, dependendo do resultado e do regulamento, aquelas que forem rebaixadas deverão liberar o espaço para a entrada das que conquistarem vaga vindas do Grupo de Acesso.

Leia um resumo sobre a ‘Fábrica do Samba’:

– Quantos barracões serão construídos?
14, mais o barracão escola e de administração.

– Qual o tamanho da área de cada barracão?
4.200 m² de área construída.

– Qual o valor do investimento?
R$ 126 milhões.

– Qual a metragem do terreno?
77 mil m².

– De quem é o terreno?
Da Prefeitura Municipal de São Paulo.

– Quem ocupará os barracões?
As escolas de samba do Grupo Especial paulistano.

– E como fica quando a escola é rebaixada do Especial para o Acesso?
Ela sai e dá lugar para aquela que conquistou a vaga na disputa do Grupo de Acesso.

SRzd acompanha o desenvolvimento do projeto desde o ano de 2012

Desde o início do projeto o SRzd Carnaval SP acompanha de perto todo o processo envolvendo a “Fábrica do Samba”. Em 2012, Luiz Sales, na época era diretor de ações estratégicas e comunicação da SPTuris, recebeu a reportagem do portal no canteiro de obras.

No mesmo ano a equipe do SRzd conversou com os presidentes das escolas de samba filiadas à Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, que visitaram e vistoriaram o local.

Finalmente, ainda no ano de 2012, o SRzd sobrevoou o terreno captando imagens exclusivas das instalações da “Fábrica do Samba”.

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