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Em 2017, Vai-Vai transformará a Avenida em terreiro

Macumba!

Esse termo é uma variação genérica atribuída aos cultos afro-brasileiros combinados com influências da religião católica, do ocultismo, de cultos ameríndios e do espiritismo.

Na “árvore genealógica” das religiões afro-brasileiras, a macumba é uma ramificação do Candomblé. A prática da macumba é erroneamente associada com rituais satânicos ou de magia negra. Esta ideia preconceituosa surgiu e se intensificou em meados da década de 1920, quando as igrejas cristãs do país começaram a propagar discursos negativos sobre a macumba, considerando-a profana às leis de Deus. A designação “macumba” é mais popular no Rio de Janeiro, em outros locais do Brasil é conhecida como Candomblé (na Bahia) e Xangô (no Recife).

A introdução é o trampolim para falar de Candomblé – religião animista, original da Nigéria e República de Benin, trazida ao Brasil por africanos escravizados e aqui estabelecida, onde sacerdotes e simpatizantes encenam, em cerimônias públicas e privadas, uma convivência com as forças da natureza e ancestrais. Os seguidores do Candomblé prestam culto e adoram os Orixás – deuses africanos que representam as forças da natureza em seus quatro elementos: água, terra, fogo e ar. As características individuais dos Orixás assemelham-se aos seres humanos, identificadas pelas emoções. Estudiosos afirmam que são cerca de 400 Orixás, divididos igualmente para cada elemento da natureza. Os mais conhecidos somam 16, em ordem alfabética, são eles: Exu, Iemanjá, Iansã, Ibeji, Iroko, Logunedé, Nanã, Obá, Ogum, Olorum, Ossain, Oxalá, Oxóssi, Oxum, Oxumaré e Xangô. Esses deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus.

Parte do que foi descrito acima estará representada no Sambódromo paulistano pela tradicional escola de samba Vai-Vai. Há menos de duas semanas conferi a apresentação dos pilotos, ao lado do carnavalesco Alexandre Louzada e ele confirmou: “A ideia é desenhar um terreiro na Avenida”. A fala é confirmada em um trecho da sinopse da escola.

Mãe Menininha. Foto: Reprodução
Mãe Menininha. Foto: Reprodução

Abra a roda e faça um terreiro em pleno palco do Anhembi, onde a nossa fé se manifesta e onde a Vai-Vai faz a festa – é o Xirê das divindades no esplendor de sua beleza, com a força da Mãe Natureza, o Gantois hoje é aqui!

Ao lado do renomado Louzada estão André Marins e Junior Schall, que assinam o enredo: “No Xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu…Menininha, mãe da Bahia, Ialorixá do Brasil”. A homenagem é voltada para um dos maiores ícones do Candomblé brasileiro, Mãe Menininha do Gantois. Com o nome de batismo Maria Escolástica da Conceição Nazaré (10-2-1894 a 13-8-1986), essa grande mulher baiana foi uma Iyálorixá (mãe de santo), filha de Oxum.

Filha de descendente de escravos africanos, ainda criança foi escolhida para ser Iyálorixá do terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê, fundado em 1849 por sua bisavó.

Maria Júlia da Conceição Nazaré, cujos pais eram originários de Agbeokuta, sudoeste da Nigéria. Mãe Menininha foi iniciada no culto dos Orixás aos 8 anos de idade por sua tia-avó e madrinha de batismo, Pulchéria Maria da Conceição (Mãe Pulchéria), chamada Kekerê – em referência à sua posição hierárquica, Iyá kekerê (Mãe pequena). Menininha seria sua sucessora na função de Iyalorixá do Gantois. Em 1922, através do jogo de búzios, os Orixás Oxóssi, Xangô, Oxum e Obaluaiyê confirmaram a escolha de Menininha, então com 28 anos. Em 18 de fevereiro daquele ano, ela assume definitivamente o terreiro.

Mãe Menininha abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos – uma abertura que, em muitos terreiros, ainda é vista com certo estranhamento. Nunca deixou de assistir à missa e até convenceu os bispos da Bahia a permitir a entrada nas igrejas de mulheres, inclusive ela, vestidas com as roupas tradicionais do Candomblé. Aos 29 anos, Menininha casou-se com o advogado Álvaro MacDowell de Oliveira, descendente de escoceses. Com ele teve duas filhas, Cleusa e Carmem.

O terreiro está localizado na rua Mãe Menininha do Gantois (antiga rua da Boa Vista, renomeada em 1986), no Alto do Gantois, bairro da Federação, em Salvador. Após a sua morte, seus filhos deixaram seu quarto intacto, com seus objetos de uso pessoal e ritualísticos. O aposento foi transformado no Memorial Mãe Menininha e é uma das grandes atrações do Gantois.

Tudo isso é somado ao reconhecimento da história vivida nos terreiros, e fez com que o Estado Nacional concedesse ao Gantois o título de Patrimônio Nacional, formalizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan). Sem dúvida, os costumes africanos são confirmados por meio das músicas, danças, comidas, histórias, indumentárias e da cultura dos Orixás. Mais do que uma festa. É uma função social.

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