Crise financeira: Vem aí Crivella ‘Mãos de Tesoura’

Marcelo Crivella, Arte: SRzd

Marcelo Crivella, Arte: SRzd

O prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella, que assumirá no dia primeiro de janeiro de 2017, só pensa naquilo: austeridade e corte de gastos. Preocupado com a situação das contas que herdará de Eduardo Paes, ele ganhou o apelido “carinhoso” de “Mãos de Tesoura”.

E não é por falta de aviso. Em outubro, Crivella , através de um comunicado, informou que os “cortes em despesas e renegociação de contratos terão que ser realizados e que haverá uma política rigorosa de responsabilidade fiscal e de acompanhamento diário da execução orçamentária”.

Crivella não está só atento ao rombo do fundo de Previdência dos servidores do Rio, em torno de R$ 8 bilhões, mas, também, à queda de receitas, redução da arrecadação, e problemas na transferência de recursos dos governos federal e estadual para o município.

“Mãos de Tesoura” não desgruda o olho da prestação de contas deixada como herança pela administração Eduardo Paes. O total da dívida líquida do município representa atualmente 46% de sua receita líquida anual. No primeiro ano da gestão de Crivella, a Prefeitura do Rio deve ter R$ 29,5 bilhões disponíveis para pagar salários, obras, prestações de empréstimos e outras contas. Esse valor é 9,2% menor do que os R$ 32,5 bilhões previstos na lei orçamentária de 2016 – valor já corrigido pela inflação medida pelo IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo.

O problema é que a prefeitura sob a batuta de Crivella terá que pagar mais dívidas em 2017 do que em 2016. Além dos empréstimos feitos por Paes para realizar obras entregues até este ano. O prefeito que deixa o posto autorizou obras e incluiu no seu rol de benfeitorias, mas quem pagará será a gestão Marcelo “Mãos de Tesoura”.

O gasto anual com o pagamento da dívida do município, aliás, deve crescer até 2019. A própria prefeitura calcula que prestações de empréstimos e juros consumam R$ 1,5 bilhão em 2018 (19% a mais do que em 2017) e outro R$ 1,7 bilhão no ano seguinte (14% a mais do que no ano anterior). Só em 2020, último ano do mandato de Crivella, é que o custo anual das dívidas para a prefeitura deve se estabilizar.

Paes contratou 22 empréstimos em oito anos à frente da prefeitura. Nove deles, contraídos para bancar a construção de corredores de BRT (Bus Rapid Transit) e outras melhorias viárias, só começam a ser pagos a partir de 2017, ou seja, depois que Crivella assumir.

Cesar Augusto Barbiero. Foto: Reprodução/Facebook
Cesar Augusto Barbiero. Foto: Reprodução/Facebook

A futura equipe que tratará de assuntos econômicos para Crivella não fugirá do chamado receituário clássico. O auditor fiscal Cesar Augusto Barbiero, atualmente secretário municipal de Fazenda de Niterói, e que já integrou o primeiro Governo Eduardo Paes, acredita que a receita para ser aplicada em 2017 não será muito diferente da adotada pela primeira equipe de Paes, e muito parecida com a que ele próprio comandou em Niterói:

“Conseguimos reduzir contas, suprimindo secretarias, extinguindo cargos comissionados, enfrentando contratos e, por outro lado, aplicando fortemente na eficiência da máquina arrecadadora, sanear despesas do exercício passado sem aumentar tributos e investimentos maciços em tecnologia de informação e revisão de processos. Reformamos a Fazenda toda”.

Ouça a entrevista completa o secretário Cesar Augusto Barbiero:

Renato Cinco. Foto: Repoduçõa/Facebook
Renato Cinco. Foto: Repoduçõa/Facebook

O vereador Renato Cinco, do PSOL, oposição a Crivella, reconhece que o novo prefeito herdará uma realidade dura em 2017. Antes da opção de se fazer cortes, o vereador propõe dar atenção prioritária à arrecadação, já que, segundo ele, a discussão no Brasil fica muito focada nos gastos públicos, no custeio e no pagamento do pessoal.

Ouça a entrevista completa do vereador Renato Cinco:

O colunista do SRzd Haroldo Monteiro fez um diagnóstico sobre a situação da cidade do Rio de Janeiro: “Os desafios no gerenciamento das contas públicas para o novo prefeito serão enormes. Cortes serão necessários: redução de secretarias, revisão de benefícios a parlamentares, priorização de investimentos, e até redução de benefícios à população são medidas importantes, porém impopulares, que devem ser tomadas para reduzir despesas e equilibrar o orçamento do município. No entanto, não podemos esquecer que, em primeiro lugar, não pode haver aumento de impostos, no caso ISS, IPTU e outros, pois as empresas e o cidadão comum não podem absorver mais esta carga. Já o ponto positivo, neste processo, e que pode ajudar bastante, é que as Olimpíadas deixaram um legado para a Cidade, tanto no que diz respeito à divulgação no exterior, como também no que diz respeito à mobilidade urbana. Portanto, está na hora de nosso novo governante usar a criatividade e melhorar a capacidade de gestão do governo no sentido de promover o turismo no município tanto nacionalmente como internacionalmente, pois o potencial da cidade é enorme. Desburocratizar para que as empresas possam se instalar no município com menos tempo e custo, fomentando, assim, o varejo e os serviços que têm um peso muito grande na economia do município, e também atrair parcerias público privadas para desenvolver novos projetos na área de infraestrutura e até na turística. É importante frisar que o equilíbrio do orçamento poderá vir também de um aumento das receitas sem ser pelo lado de aumento de impostos”.

Alexandre Cardoso. Foto: Divulgação
Alexandre Cardoso. Foto: Divulgação

Como se vê, Marcelo “Mãos de Tesoura” Crivella não terá vida fácil. Que tal ouvir a experiência de quem está deixando o cargo? É o caso de Alexandre Cardoso, prefeito de Duque de Caxias. Ele está finalizando um livro justamente sobre as agruras de se administrar uma cidade populosa sem repasses de recursos e com incontáveis problemas, até de falta de fiscais.

Ouça a entrevista completa com o prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso:

Só falta agora saber com quem “Mãos de Tesoura” vai caminhar pela cidade. Quem será o novo secretário Municipal de Fazenda?

*Esta reportagem recorreu a dados apurados pelo colega Vinicius Konchinski, do Uol, no Rio

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